Informativo GEA
Manejo de pé-de-galinha na soja
1. INTRODUÇÃO
A soja é considerada a principal commodity do Brasil, representando 18% do PIB do agronegócio e 3,9% do PIB total do Brasil, segundo dados do Cepea até março/24. Com base em um levantamento da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Goiás, nesta safra, o estado do Mato Grosso teve destaque de produção, alcançando a casa dos 39,3 milhões de toneladas, seguido de Rio Grande Do Sul, Paraná, Goiás e Mato Grosso Do Sul.
Visando isso, é de extrema importância que haja um manejo adequado da sojicultura a fim de produzir altos tetos produtivos e manter a colocação de exportação encontrada.
Diversos fatores podem levar a alta produtividade, e pode-se citar o manejo adequado de plantas daninhas como um dos principais. As perdas por daninhas podem chegar até 80% se não forem bem manejadas durante o período correto (Embrapa, 2006).
Essas plantas podem ser consideradas prejudiciais devido à competição por água e nutrientes com a cultura inserida. Somado a isso, possuem rápida germinação e crescimento inicial, sistema radicular abundante, elevada eficiência no uso da água, entre outros fatores que auxiliam em uma maior permanência no campo (Embrapa, 2006).
2. Caracterização do capim pé-de-galinha (Eleusine indica):
Visto isso, o capim pé-de-galinha (Eleusine Indica) é uma importante invasora em mais de 50 culturas (Radosevich et al., 1997; Lee & Ngim, 2000). É uma planta herbácea, das famílias das gramíneas, anual, de verão, fortemente enraizada, cespitosa, com alturas entre 30 a 50 cm e com hábito de crescimento prostrado e ramificado. Possuem colmo achatados na parte inferior, os quais são glabros e fibrosos, possuindo dificilmente pelos longos. Suas folhas medem de 7 a 10 centímetros, são consideradas lisas mas podem demonstrar pêlos na região do colar e possuem bainha reduzida em folhas basais. Possui inflorescência terminal digitada, é autógama, com ciclo fotossintético C4 (Kissmann, 2007., Lorenzi, 2014; Corteva, s.d., Ihara, 2021., HRAC, 2022).
Fonte: HRAC
Seu ciclo varia de 120 a 180 dias, e é considerada uma das principais invasoras devido às suas características que a tornam mais resistente ao meio. Possui alta plasticidade, tornando-a mais estável nos sistemas agrícolas, além de ser tolerante à seca e à alta umidade, possui boa performance em solos ácidos, com baixa fertilidade e compactado (Kissmann, 2007).
Diante do panorama da cultura da soja no Brasil e de elevadas produtividades, somado a um difícil controle desse capim devido às suas características adaptativas, nota-se a importância de um bom manejo dessa daninha na sojicultura.
3.Manejo do capim pé-de-galinha na cultura da soja:
O manejo de plantas daninhas deve começar antes da implementação da cultura, preferencialmente, visando eliminar competidores naturais no campo no momento do plantio e, sendo essencial para um desenvolvimento de forma mais rápida e vigorosa da cultura. Para o controle de capim pé-de-galinha, o manejo mais adequado no pré-plantio é a realização de aplicações sequenciais. Isso envolve a aplicação de um herbicida sistêmico, que será translocado pela planta, gerando gastos energéticos que aumentam a eficácia da aplicação seguinte, com um herbicida de contato. Essa abordagem visa evitar a rebrota e proporciona um alto potencial de controle.
Pensando no capim pé-de-galinha, alguns herbicidas são preferíveis de serem utilizados em cada uma dessas aplicações, sendo na primeira aplicação, com herbicidas sistêmicos, a possibilidade do uso de herbicidas do mecanismo de ação dos Inibidores da síntese de ALS, como o imazetapir e o clorimuron, em um período de 30 dias antes da semeadura da soja, sendo possível a adição de um glifosato em calda. Já na segunda aplicação, a de herbicidas de contato, indica-se o uso de glufosinato de amônio, com algum ativo que proporciona manchas necróticas, como o metribuzin, o tiafenacil e flumioxazina, de forma a completar o controle da daninha, combatendo-a e impedindo sua rebrota.
Fonte: Agro em Dia
Ademais, a utilização de pré-emergentes é fundamental para a implementação de qualquer cultura, visando seus efeitos residuais desejados, os quais irão garantir um controle mais prolongado da área, pois atuam diretamente no solo e no banco de sementes, impedindo a emergência de inúmeras daninhas. Tendo em vista a cultura da soja e a daninha em questão, os pré-emergentes que se destacam com assertividade são: s-metolacloro, clomazone, trifluralina, piroxasulfone e flumioxazina. Bem como, misturas de ingredientes ativos, são comumente utilizados, como as misturas entre fomesafen e s-metolacloro, flumioxazina e pyroxasulfone e sulfentrazone com diuron, sendo misturas assertivas que garantem um bom nível de controle, favorecendo a redução da pressão seletiva de resistência nessa daninha.
Nesse sentido, os ativos clorimuron-etílico, diclosulam, s-metolacloro, sulfentrazone, clomazone, pendimetalina e a trifluralina apresentam bons resultados de eficiência de controle em testes (CAVALCANTE et al., 2018).
Segundo experimento realizado, os ativos clorimuron etílico (5 g/ha do i.a.), diclosulam (14,81 g/ha do i.a.), s-metolacloro (921,6 g/ha do i.a.) e trifloxissulfurom-sódico (11,5 g/ha do i.a.) apresentaram eficiência no controle do capim pé-de-galinha, acima de 80% nas avaliações aos 32 dias após a aplicação em solos de textura média, sendo que os ativos s-metolacloro e trifloxissulfurom-sódico apresentaram eficiência superior a 94% (CAVALCANTE et al., 2018).
Até os 35 dias após a aplicação (DAA) em pré-emergência os ativos sulfentrazona (600 g/ha do i.a.), clomazone (800 g/ha do i.a.), pendimetalina (1250 g/ha do i.a.), s-metolacloro (1728 g/ha do i.a.) e a trifluralina (1800 g/ha do i.a.) apresentaram eficiência de controle superior a 90%, e os mesmos resultados se mantiveram até os 60 DAA com exceção da eficiência de controle do clomazone que caiu para 77,5% aos 60 DAA (TAKANO et al., 2018).
Diante disso, para um manejo adequado em pós-emergência deve-se saber que o glifosato é uma das moléculas mais utilizadas nas aplicações em pós-emergência no Brasil, possuindo uma eficiência de controle para uma gama de plantas daninhas, no entanto, como será abordado posteriormente, o capim pé-de-galinha possui casos de resistência a esse produto, gerando um desafio adicional no controle dessa daninha. Uma estratégia muito utilizada visando seu controle é o uso de herbicidas com efeito residual, principalmente em um cenário de plantas daninhas com resistência ao glifosato em soja RR. Desse modo, recomenda-se a aplicação de herbicidas alternativos para mitigar a evolução do E. indica ao glifosato ( OWEN et al., 2011; ULGUIM et al., 2013).
No experimento vigente, foi aplicado glifosato na dosagem de 1.080 g/ha do e.a. em diferentes fases vegetativas, em plantas com duas e quatro folhas e em um/dois perfilhos, em biótipos oriundos de escape ao controle com glifosato e biótipo suscetível ao glifosato, foi observado que a fase vegetativa influencia no manejo, visto que as plantas com duas folhas foram controladas, incluindo as não suscetíveis. No entanto, conforme a planta avança no desenvolvimento, menos plantas são controladas com a aplicação de glifosato.
Quando fala-se de aplicação em pós-emergência, comenta-se sobre aplicação de duas doses de glifosato em soja RR, ou uma aplicação em dessecação e outra em pós, caracterizando 92% dos casos. A fim de evitar o uso de glifosato, visto seus casos de resistência, pode-se aplicar Clethodim, Haloxyfop-methyl, Sethoxydim, Tepraloxydim e Fluazifop-p butyl e o glufosinato de amônio, tendo estes bons índices de controle sobre a daninha, conforme o estudo abaixo.
Fonte: Christoffoleti, P. J (2014).
4.Resistência:
Uma das dificuldades de controlar o pé-de-galinha, quando se fala de controle químico, é sua alta resistência aos produtos. Segundo a FAO, a resistência de plantas daninhas aos herbicidas pode ser definida como ocorrência de biótipo com habilidade de sobreviver à aplicação de composto químico, para o qual a população original era suscetível (LeBaron & Gressel, 1982).
Segundo Winkler et al., 2002), a resistência desenvolvida é mais comum em culturas anuais visto que grandes infestações de plantas daninhas favorecem o aumento dos riscos de seleção para resistência.
Dentre os casos de resistência já descritos mundialmente, aqueles que envolvem o herbicida glifosato são os mais preocupantes devido a importância desse produto para o manejo de plantas daninhas, que com o advento da Tecnologia Roundup Ready passou a ser o principal herbicida utilizado no mundo nestes sistemas de cultivo, principalmente na cultura da soja. Como respostas ao uso contínuo dessa tecnologia ao longo dos anos, em 2016 foi confirmado o primeiro caso de resistência do capim pé-de-galinha ao glifosato. Dentro do exposto, o capim pé-de-galinha é considerado uma das cinco plantas daninhas mais problemáticas no mundo, devido ao grande número de relatos de culturas que infesta e aos casos de resistência mundialmente já descritos (Heap 2020; Holm et al. 1997).
Nos últimos anos o grande desafio no manejo de plantas daninhas no cerrado brasileiro tem sido o controle de daninhas, com enfoque no E. indica que já foi confirmado no estado de Mato Grosso casos com resistência múltipla aos herbicidas fenoxaprop-p-ethyl, glifosato e haloxyfop-methyl (Heap 2020). Esse caso de resistência é de grande preocupação ao sistema produtivo pois, se tratando do manejo em pós-emergência na soja, os herbicidas inibidores da ACCase e o herbicida glifosato são as duas ferramentas mais utilizadas e até então efetivas. Portanto, manejar de forma efetiva e consciente os biótipos de E. indica é fundamental para preservar a efetividade desses ativos no controle.
Somado a isso, descobriu-se em Luís Eduardo Magalhães, uma nova resistência múltipla e cruzada aos herbicidas glifosato, cletodim e haloxifope-p-metílico (Ihara, 2023).
5.Considerações finais:
A sojicultura tem uma grande participação no PIB do país, sua grande importância na economia brasileira reflete os índices de produção do Brasil, bem como toda sua cadeia produtiva.
Portanto, para maximizar seus tetos produtivos é essencial realizar um bom manejo das plantas-daninhas, com destaque para o capim pé-de-galinha como abordado anteriormente, o qual causa grandes danos na sojicultura do país, principalmente devido seu caráter adaptativo, além de apresentar diversos casos de resistência, dificultando ainda mais sua erradicação.
Assim, um bom manejo pré-plantio, associado com aplicação de pré e pós emergentes na soja, em misturas de produtos, é o caminho necessário para se atingir elevados índices de controle, bem como evitar um aumento da pressão seletiva para o surgimento de novos biótipos resistentes.
REFERÊNCIAS
Ulguim, André da Rosa, et al. “Manejo de Capim Pé-De-Galinha Em Lavouras d
Soja Transgênica Resistente Ao Glifosato.” Pesquisa Agropecuária Brasileira, vol
48, no. 1, Jan. 2013, pp. 17–24, https://doi.org/10.1590/s0100-204x2013000100003.
TAKANO, H.K, et al. “Controle Químico de Capim-Pé-De-Galinha Resistente Ao
Glyphosate.” Planta Daninha, vol. 36, 10 July 2018, p. e018176124.
www.scielo.br/j/pd/a/9CBNtHPPdYrSFpQgS76wTrr/abstract/?format=html&lang=pt.
Accessed 4 Oct. 2024.
Toledo, Luis. “Capim-Pé-De-Galinha: Pesquisa Aponta Resistência Múltipla a
Herbicidas.” Ihara, 12 Dec. 2023,
ihara.canalrural.com.br/capim-pe-de-galinha-pesquisa-aponta-resistencia-multipla-a
herbicidas/.
“SOJA – AGRO EM DADOS / SETEMBRO 2024 - SEAPA - Secretaria de Estado de
Agricultura, Pecuária E Abastecimento.” Treinamento, 11 Sept. 2024,
goias.gov.br/agricultura/soja-agro-em-dados-setembro-2024/. Accessed 3 Oct. 2024.
Tecnologia, Imagenet. “CEPEA/ABIOVE: PIB Da Cadeia Da Soja E Do Biodiesel
Cresce 21% Em 2023, Mas Renda Real Recua 5,3%.” Centro de Estudos
Avançados Em Economia Aplicada - CEPEA-Esalq/USP,
www.cepea.esalq.usp.br/br/releases/cepea-abiove-pib-da-cadeia-da-soja-e-do-biod
esel-cresce-21-em-2023-mas-renda-real-recua-5-3.aspx.
“Plantas Daninhas No Brasil: Capim-Pé-De-Galinha.” Corteva.com.br, 2020,
www.corteva.com.br/boas-praticas-agricolas/publication/plantas-daninhas-no-brasil-
apim-pe-de-galinha.html. Accessed 5 Oct. 2024.
“Google Acadêmico.” Google.com.br, 2024,
scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=manejo+de+capim+p
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3lmph3axHIoJ. Accessed 5 Oct. 2024.