Informativo GEA
Giberela e brusone no trigo
De acordo com o Boletim da Safra de Grãos emitido pela CONAB no mês de junho de 2023, a área plantada de trigo no Brasil é estimada em 3.384,5 mil hectares, com uma produtividade média de 2.888 kg/ha. Sendo assim a produção total esperada é de 9.773,7 mil toneladas. Estes dados vêm aumentando a cada ano, visto que a triticultura se espalhou por quase todo o território nacional, ao passo que, há poucos anos atrás, se desenvolvia quase exclusivamente na região Sul do Brasil.
Conforme as projeções realizadas, e devido aos bons resultados obtidos nas últimas safras, graças ao desenvolvimento de cultivares mais adaptadas ao cultivo no Cerrado, esperase que em poucos anos o Brasil se torne um país autossuficiente na produção de trigo. Fato que hoje ainda não é realidade, visto o déficit de 2.658,5 mil toneladas que existe entre demanda interna e produção. Um dos principais fatores limitantes para atingir maiores produtividades na cultura do trigo são a incidência de doenças, sobretudo a Giberela e a Brusone, cujos patógenos causadores são: Fusarium graminearum, também conhecido por Gibberella zeae em seu estado anamorfo, e Pyricularia oryzae – respectivamente.
A giberela (Fusarium graminearum) é uma das doenças mais importantes da cultura do trigo, estando presente em quase todas as regiões produtoras do cereal. Sua frequência é maior na região Sul, onde ocorre a perda de produtividade e de qualidade do grão. Sua importância vai além da sanidade da planta, e pode apresentar riscos à saúde devido às micotoxinas produzidas por esse ascomiceto. Existe, portanto, um limite máximo aceitável da micotoxina deoxinivalenol na farinha e no grão para o comércio (DEL PONTE, 2004).
As condições climáticas no estado de florescimento são fundamentais para o estabelecimento do patógeno na planta, sendo fundamental o monitoramento durante essa fase para o diagnóstico precoce da doença. Para a infecção, são necessárias temperaturas entre 20 e 25 graus Celsius, com molhamento foliar contínuo de 30 a 36 horas. Segundo Forcelini et al (1997), o molhamento foliar contínuo de 72 horas com uma temperatura média de 20 graus Celsius confere a maior probabilidade de infecção, chegando a percentuais de 80% das espigas infectadas.
Os hospedeiros deste fungo são diversos, podendo afetar culturas de inverno como triticale, centeio, cevada, arroz, alfafa e sorgo, e também culturas de verão como o milho (Zea mays). O patógeno consegue sobreviver em restos culturais de plantas infectadas, sendo grande problema quando cultivado trigo em sucessão com palhas de milho e cereais de inverno. A dispersão em curtas distâncias é realizada por conídios com respingos de chuva, já os ascósporos podem ser transportados a longas distâncias pelo vento.
Os sintomas dessa doença são visualizados na parte da espiga, onde o fungo infecta. A infecção ocorre pela chegada dos esporos nas anteras, que se desenvolvem, chegando às flores. Depois disso, podem causar a destruição e a má formação dos grãos, que adquirem coloração rósea. As espiguetas infectadas apresentam descoloração precoce e as aristas afetadas deslocam-se para fora da espigueta, com aspecto de “arrepiado”. Em climas quentes e úmidos, a coloração rósea pode alcançar a base da espigueta e as bordas da gluma.
Figura 1: Sintomas de Giberela em planta de trigo.
Fonte: Portal Embrapa
O controle dessa doença é considerado difícil, pois não existem cultivares totalmente resistentes, e a aplicação de fungicidas muitas vezes apresenta eficácia reduzida. Porém, a aplicação desses produtos deve ser feita no início do florescimento, de maneira a prevenir a infecção pelo patógeno (FORCELINI et al., 1997; SANTANA et al., 2012).
Já a Brusone (Pyricularia oryzae) ocorre principalmente no norte do Paraná, Sul de São Paulo e Mato Grosso do Sul, podendo afetar várias partes da planta. Os danos na base são, geralemente, os mais severos, podendo causar perdas de até 100% de produtividade. Devido ao seu potencial destrutivo, a brusone é hoje considerada, juntamente com a giberela, a principal doença da cultura do trigo (Lima, 2004; Lau et al., 2011; Lau et al., 2016).
Chuvas excessivas no momento de espigamento combinadas com temperaturas elevadas - entre 24 a 28 graus Celsius - favorecem a deposição e desenvolvimento do patógeno. Os danos variam conforme o momento da infecção, sendo maiores em infecções precoces e menores em tardias (Lau et al., 2016). O fungo sobrevive em restos culturais, porém sua principal fonte de inóculo advém de espécies hospedeiras presentes nas áreas, como a Brachiaria plantaginea, Echinocloa crusgalli, Eleusine coracana e Setaria indica (KUHNEM et al., 2021).
Os principais sintomas dessa doença são espigas brancas, principalmente em sua metade superior. Sobre o ráquis, observam-se lesões pretas brilhantes onde houve a penetração do patógeno, podendo causar a morte da espiga acima do ponto de penetração. No limbo foliar, podem ocorrer manchas elípticas acinzentadas.
Figura 2: Sintomas de brusone em plantas de trigo.
Fonte: Mais Soja & Fitopatologia UFV
Assim como a giberela, a brusone também apresenta difícil controle. O uso de cultivares resistentes têm se mostrado eficiente para evitar epidemias do patógeno, visto que fungicidas muitas vezes não apresentam controle muito efetivo, devido à dificuldade de deposição nos sítios de infecção do fungo. A semeadura precoce também é uma ferramenta importante nas regiões mais tradicionais de cultivo.
Portanto, é evidente que criar estratégias de manejo seja essencial para o desenvolvimento da triticultura no Brasil. Por se tratar de fungos necrotróficos, ou hemibiotróficos, devemos nos atentar nas medidas que antecedem a instalação da cultura, bem como nos tratos culturais que acompanham seu desenvolvimento. O uso de cultivares menos suscetíveis é essencial para o sucesso, bem como o posicionamento correto de moléculas fungitóxicas.
Redigido por:
Recicla-g - João Vitor Ferreira Reale Pereira