Informativo GEA
Pré-emergentes na soja
A soja (Glycine max) é, atualmente, o quarto grão mais cultivado no mundo, contando com cerca de 128 milhões de hectares de áreas agricultáveis destinadas a essa leguminosa, sendo que destes, cerca de 42 milhões de hectares pertencem ao Brasil, que no ano de 2022 é considerado o maior produtor. Em consequência, segundo a Conab (2022), o cultivo da oleaginosa está em tendência crescente de produção, assim como de exportação, o que indica a necessidade de aliar o aumento da produtividade à diminuição da matocompetição por meio da utilização de pré-emergentes. A presença de daninhas na cultura da soja é responsável por reduzir o rendimento de grãos, assim como a qualidade da produção, considerando que a competição é determinada por três fatores principais, sendo estes a época de semeadura, a densidade e as espécies de daninhas presentes na área (SARDANA, 2016).
A redução do rendimento e da qualidade dos grãos deve-se ao estresse provocado pela matocompetição, à medida que as daninhas competem por recursos naturais como o CO2, incidência luminosa, água, nutrientes e espaço no campo, levando a alterações nas condições morfológicas e fisiológicas da cultura em foco, no caso a soja (GALON et al., 2013).
Como também, além dos efeitos provocados nas alterações das condições morfológicas e fisiológicas da soja, as plantas daninhas ainda podem atuar como hospedeiras de pragas e doenças que podem interferir no teor de umidade e impureza dos grãos (VASCONCELOS et al., 2012).
Portanto, haja vista a dificuldade de controle dessas plantas surge a necessidade de manejo com produtos que apresentem efeito residual no solo, visto que estes podem proporcionar um controle inicial das primeiras camadas de sementes presentes na área. Apesar da utilização de pré-emergentes não suprimir o manejo com pós-emergentes ao longo do ciclo da cultura, estes produtos iniciais podem em alguns casos melhorar a eficiência do pós-emergente, à medida que diminuem a pressão de infestação (RIZZARDI, 2017).
De acordo com alguns estudos existem momentos ideais para a realização de manejos de controle de plantas daninhas, visto que esses caracterizam
momentos críticos para o desenvolvimento da cultura. Esses períodos são o período anterior à interferência (PAI), período total de prevenção de interferência (PTPI) e período crítico de prevenção de interferência (PCPI), em prol de que a cultura esteja livre da infestação de plantas daninhas ao longo de seu período crítico, a fim de que seja capaz de alcançar o seu máximo potencial produtivo (BENDER, 2021).
Figura 1 - Produtividade de grãos de soja (cultivar M-SOY-6101) em resposta aos períodos de controle e de convivência com as plantas daninhas, considerando uma perda de 5% na produtividade
Fonte: (NEPOMUCENO et al., 2007).
Os herbicidas pré-emergentes em geral apresentam residual prolongado no solo e podem ser utilizados na pré ou pós-semeadura, porém sempre antes da emergência da cultura ou das plantas daninhas. Considerando que a sua eficiência vai depender de fatores como a umidade do solo, precipitação, temperatura do local, tipo de solo, entre outros (MATTE, 2017). Alguns dos principais herbicidas pré-emergentes que podem ser utilizados são o Clomazone, o Diclosulam, a Trifluralina e o S-metalocloro.
Primeiramente, os herbicidas com ingrediente ativo clomazone, do grupo químico das isoxazolidinona e mecanismo de ação inibidores da biossíntese de carotenóides (F4). Um importante herbicida com este ingrediente ativo em sua composição é o Gamit, sendo um produto utilizado em pré e pós emergente, trata-se de um herbicida sistêmico com seletividade a diversas culturas, incluindo a soja. As principais plantas daninhas cujo consta no registro do gamit o controle são Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica); Trapoeraba (Commelina benghalensis) dentre diversas outras daninhas, porém essas podem ser destacadas devido a sua dificuldade de controle uma vez que uma possui resistência ao glifosato (capim pé de galinha) e a outra possui tolerância (trapoeraba). Sua utilização deve ser feita após a semeadura da soja em doses que variam de 1,6 a 2,5 litros por hectare, sua aplicação deve ser realizada em solo úmido caso contrário recomenda-se aguardar segundo sua bula uma chuva de 10mm.
Dentre o diclosulam podemos utilizar o Spider, este herbicida pertence ao grupo B, ou seja, inibidores da ALS a qual é responsável pela síntese dos aminoácidos valina, isoleucina e leucina (RIBEIRO et al., 2019). Pertence ao grupo químico das sulfonanilidas triazolopirimidinas. Este herbicida é um importante herbicida utilizado como pré emergente na cultura da soja, apresentando controle tanto para monocotiledôneas quanto para dicotiledôneas algumas plantas daninhas importantes cujo o spider tem controle registrado em sua bula são: Buva (Conyza bonariensis); Capim amargoso (Digitaria Insularis) e Corda-de-viola (ipomoea grandifolia) além destes muitas outras plantas infestantes são citadas em sua bula. Sua aplicação deve ser realizada em pré semeadura da cultura de interesse, sua aplicação para ter maior eficiência deve ser realizada com solo úmido para que assim possa atingir a camada de germinação de sementes de plantas daninhas as doses utilizadas para a cultura da soja variam de 23,8g a 41,7g por hectare.
Herbicidas com ingrediente S-Metolacloro (grupo químico das cloroacetamidas), possuem seu mecanismo de ação baseado na inibição da síntese de ácidos graxos de cadeia muito longa (Grupo K3), este é absorvido através do coleóptilo das monocotiledôneas e através do hipocótilo das dicotiledôneas. Dessa forma, estes são herbicidas utilizados em pré emergência, há de exemplo o Dual Gold, possuem maior eficiência no controle de monocotiledôneas e também possui eficiência no controle de trapoeraba (commelina benghalensis), importante controle para a cultura da soja haja visto que esta daninha possui tolerância ao glifosato. Sua utilização na cultura da soja é registrada para um amplo grupo de plantas daninhas, como exemplos temos: capim pé de galinha (Eleusine indica); Trapoeraba (commelina benghalensis); Capim amargoso (Digitaria Insularis); Caruru de mancha (Amaranthus viridis); Caruru roxo (Amaranthus hybridus) dentre outras daninhas. Quanto a sua utilização deve-se tomar cuidado em relação a sua seletividade, o mesmo é seletivo a diversas culturas inclusive a da soja, no entanto, o semeio de forma superficial, alta incidência de chuvas e altas doses podem afetar tal seletividade, além disso em solos com altos teores de matéria orgânica deve-se utilizar doses mais altas devido a sua alta adsorção nestes colóides. Na cultura da soja sua utilização deve ser somente até o estádio palito de fósforo (cotiledones fechados). Quanto às doses utilizadas, o herbicida Dual Gold apresenta em sua bula doses que variam de 1,25 a 2 litros por hectare.
Os herbicidas que possuem ingrediente ativo a base de trifluralina do grupo químico dinitroanilina classificado na HRAC no grupo K1 são responsáveis pela inibição na formação de microtúbulos. Herbicidas a base deste ingrediente são utilizados como pré emergente, possuem seletividade a diversas culturas de interesse, dentre elas a soja, sendo este focado no controle de plantas daninhas monocotiledôneas como exemplo temos o pé de galinha (Eleusine indica) e o Capim amargoso (Digitaria Insularis), duas daninhas importantes na cultura da soja em decorrência de sua resistência registrada para o glifosato. Um herbicida que pode ser utilizado é o trifluralina nortox gold, segundo sua bula as doses para a cultura da soja variam de 3 a 5 litros, sendo que em solos mais arenosos a dose é de 3 litros e mais argilosos doses de 5 litros devendo se atentar a este fato, haja visto que a seletividade pode ser comprometida. O herbicida analisado em questão não necessita de incorporação no solo, contudo, alguns produtos com ingrediente ativo base de trifluralina necessitam de incorporação no solo, haja vista a alta volatilidade que possuem, portanto, é recomendado esse método para que a perda de produto seja a mínima possível. Há de exemplo de herbicidas que necessitam de incorporação tem-se o Premerlin 600 CE, o qual é a base de trifluralina e que necessita de incorporação superficial de no mínimo 2 cm de profundidade.
Em exemplo da utilização de pré-emergentes na soja, há um estudo que analisa a seletividade do herbicida Saflufenacil em pré-emergência. Neste estudo pode-se analisar que o teor de argila influenciou diretamente no poder de dano gerado pelo herbicida, à medida que as maiores reduções de matéria seca na parte aérea da soja foram ocasionadas quando a aplicação foi realizada em solos arenosos. Em relação à associação do Saflufenacil com o Glifosato, este proporcionou um melhor controle de daninhas que são resistentes aos inibidores da ALS e inibidores da EPSPS (GROSSMANN et al., 2010).
Contudo, um dos principais problemas que podem ser relatados em relação a utilização de Saflufenacil são os efeitos fitotóxicos que podem ser gerados na cultura da soja. No presente estudo foram analisadas duas cultivares de soja, sendo a BG 4377 RR e a TMG 132 RR, que, em associação com o glifosato, tiveram a seguinte resposta, respectivamente: redução da produtividade independente da dose aplicada e seletividade à cultura independente da dose aplicada.
Redigido por:
Da-vida - Maria Fernanda Nachbar
Gomózi - Luiz Fernando Carminati
Referências bibliográficas:
MAPA, ADAMA. Premerlin 600 CE. In: ADAMA. Premerlin 60 CE: Bula. [S. l.], 27 jun. 2022. Disponível em:
https://www.adapar.pr.gov.br/sites/adapar/arquivos_restritos/files/documento/2020-10/premerlin60 0ec0720.pdf. Acesso em: 2 nov. 2022.
TRIFLURALINA Nortox Gold. [S. l.], 5 out. 2021. Disponível em:
https://www.adapar.pr.gov.br/sites/adapar/arquivos_restritos/files/documento/2020-10/trifluralinano rtoxgold0120.pdf. Acesso em: 1 nov. 2022.
GAMIT 360 CS. [S. l.], 20 mar. 2018. Disponível em:
https://fmcagricola.com.br/Content/Fotos/Bula%20-%20Gamit%20360%20CS.pdf. Acesso em: 1 nov. 2022.
SPIDER 840 WG. [S. l.], 20 fev. 2019. Disponível em:
https://www.corteva.com.br/content/dam/dpagco/corteva/la/br/pt/products/files/DF-bula-spider.pdf . Acesso em: 1 nov. 2022.
DUAL GOLD. [S. l.], 20 abr. 2013. Disponível em:
https://www.syngenta.com.br/sites/g/files/zhg256/f/dual_gold_1.pdf?token=1560345476. Acesso em: 1 nov. 2022.
BEN, RONEI. AVALIAÇÃO DA SELETIVIDADE DO HERBICIDA SAFLUFENACIL EM PRÉ-EMERGÊNCIA DA CULTURA DA SOJA. 2016. 89 p. Dissertação (Mestrado) - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”, Botucatu, 2016. Disponível em:
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/147064/ben_r_me_bot.pdf?sequence=3&isAllo wed=y. Acesso em: 1 nov. 2022.