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Informativo GEA

Regulador de crescimento no trigo
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A cultura do trigo é originária da antiga mesopotâmia e utilizada como alimento há mais de 12 mil anos, sendo hoje a principal cultura em área plantada no mundo (222 milhões de hectares) e a base da alimentação de mais de 4,5 bilhões de pessoas.

Dentre os maiores produtores do cereal destacam-se os três primeiros: União Europeia (138,4 milhões de toneladas), China (136,9 milhões de toneladas) e Índia (109,5 milhões de toneladas). O Brasil permanece na décima quinta posição com uma produção esperada de 7,7 milhões de toneladas na safra atual (USDA, 2021).

Com a situação climática global, o cenário para a produção de trigo é, em geral, negativo, devido a elevação da temperatura global, ocorrência de secas frequentes, alto impacto de doenças e pragas e eventos climáticos extremos mais frequentes e severos. No entanto, entre janeiro de 2020 e abril de 2022, o preço do trigo aumentou 130%, resultado de uma combinação de fatores que inclui a pandemia, a inflação das commodities e, mais recentemente, a Guerra da Ucrânia, que tirou de cena os dois grandes fornecedores de trigo para o mercado internacional, a Rússia e a Ucrânia.

Assim, visando altas produtividades desse cereal, algumas práticas de manejo como o aumento da densidade populacional e o aumento das doses de adubação (principalmente nitrogenada), aliadas a condições ambientais favoráveis, como disponibilidade hídrica não limitante ao crescimento, compactação do solo e temperatura elevada, podem ser prejudiciais devido à alta suscetibilidade de algumas cultivares ao acamamento (MAIS SOJA, 2022).

Figura 1- Diferença no desenvolvimento das plantas de trigo BRS 264, na fase de surgimento do primeiro nó visível, oriundas de semeadura com densidade adequada e plantas oriundas de densidade de semeadura elevada.

Fonte: Chagas (2020)

Portanto, quando as condições são favoráveis, as plantas de trigo crescem demasiadamente e podem acamar, o que provoca decréscimo da fotossíntese, redução na assimilação e translocação de carboidratos e minerais, aumento da intensidade de doenças e redução na eficiência da colheita. Assim, quando ocorre no enchimento de grãos, o acamamento provoca diminuição da produtividade e, quando ocorre próximo a maturação fisiológica provoca diminuição na qualidade de grãos.

Figura 2 - Acamamento da cultura do trigo

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Fonte: FURLANI

Dessa forma, para contornar este problema, em lavouras de alto teto produtivo uma das alternativas para não abrir mão do elevado aporte nutricional é o uso de reguladores de crescimento, que são substâncias não sintetizadas pelas plantas que vão reduzir o porte de plantas, reduzir ou estimular a senescência de plantas, como também na maturação de frutos (SCUDELER et al., 2004). De maneira geral, buscam tornar a arquitetura das plantas mais adaptada e eficiente quanto   ao   uso   dos   recursos   naturais   e   dos insumos, a fim de suportar elevados rendimentos agronômicos (SOUZA et al., 2013).

No caso do trigo, o trinexapac-etil é o mais usual, agindo como um inibidor da biossíntese de giberelina, hormônio vegetal que atua em células jovens promovendo o alongamento e divisão celular. Assim, inibindo o hormônio, o porte das plantas é reduzido e aumenta-se a resistência do colmo, diminuindo o acamamento (ZAGONEL; FERNANDES, 2007). Além disso, a redução do tamanho de plantas resulta em um melhor rendimento (tabela 1), pela melhor capacidade de interceptação de radiação solar, em momentos de suma importância para a definição da produção, assim como o redirecionamento do carbono que seria utilizado para o crescimento para a estrutura das plantas (CHAVARRIA et al., 2015).

Figura 3 - Corte do entrenó de planta com regulador de crescimento (trinexapac-ethyl) e sem o regulador de crescimento (testemunha).

Fonte: PENCKOWSKI (2016)

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Tabela 1 - Componentes do rendimento, produtividade e qualidade de trigo dos cultivares Quartzo e Mirante, submetidos à aplicação de regulador de crescimento trinexapac-etil a campo.

Fonte: CHAVARRIA et al. (2015).

De modo geral, recomenda-se que a aplicação do regulador de crescimento seja realizada após o perfilhamento, no período de elongação, preferencialmente no momento em que o primeiro nó encontra-se visível e o segundo nó é perceptível (PIRES et al., 2005; CHAVARRIA et al., 2015; MORI et al., 2016; SYNGENTA, 2022).

Figura 4 - Escala modificada da Feeks-Large, para caracterização dos estádios de desenvolvimento do trigo.

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Fonte: LARGE (1954)

Um exemplo de produto comercial constituído de trinexapac-etil é o MODDUS da Syngenta, utilizado como regulador de crescimento para as culturas de cana-de-açúcar, aveia branca, cevada e trigo. Para o trigo, as doses do produto variam de 0,4 a 0,5 L p.c. por hectare, sendo que as maiores doses devem ser utilizadas nas culturas que receberam doses maiores de adubação nitrogenada (SYNGENTA, 2022). É importante ressaltar que algumas cultivares podem apresentar reação de toxicidade às doses de bula do trinexapac-etil, assim, é importante consultar a assistência técnica antes de realizar a aplicação.

Tendo em vista os aspectos observados, pode-se dizer que os reguladores de crescimento são interessantes ferramentas de manejo para a cultura do trigo, principalmente em condições em que se almeja um elevado teto produtivo, possibilitando além da redução do acamamento, o aumento da produtividade da cultura. No entanto, é importante ressaltar que a aplicação deve ser restrita a cultivares com tendência ao acamamento, em solos com alta fertilidade e sem déficit hídrico, principalmente em sistema irrigado.

Redigido por:

Xéf-tã - Matheus de Goes Domingues

Referências bibliográficas:

CHAGAS, J. H. et al. Informações fitotécnicas das cultivares de trigo BRS 254, BRS 264 e BRS 394 para o sistema irrigado do cerrado do Brasil central. Embrapa, Circular Técnica, n. 54, 2020.

CHAVARRIA, G. et al. Regulador de crescimento em plantas de trigo: reflexos sobre o desenvolvimento vegetativo, rendimento e qualidade de grãos. Rev. Ceres, Viçosa, v. 62, n.6, p. 583-588, nov-dez, 2015.

MAIS SOJA. Regulador de crescimento em trigo: quando aplicar: quando aplicar? 2022. Disponível em: https://maissoja.com.br/regulador-de-crescimento-em-trigo-quando-aplicar/. Acesso em: 08 ago. 2022.

MORI, Claudia de et al (Ed.). Trigo: o produtor pergunta, a Embrapa responde. Brasília: Embrapa, 2016. 309 p.

PIRES, J. L. F. et al. Avaliação de cultivares de trigo em sistema de manejo tradicional e otimizado. Passo Fundo, 2004. Embrapa, documentos online, n. 54, 2005.

SCUDELER F., RAETANO C.G., ARAUJO D, BAUER F.C. Cobertura da pulverização e maturação de frutos do cafeeiro com ethephon em diferentes condições operacionais. Bragantia, 63:129-139. 2004.

SOUZA, C.A.; FIGUEIREDO, B.P.; COELHO, C.M.M.; CASA,  R.C.;  SANGOI,  L.  Arquitetura  de  plantas  e produtividade   da   soja   decorrente   do   uso   de redutores   de   crescimento. Bioscience   Journal, v.29, p.634-643, 2013.

SYNGENTA. MODDUS. 2022. Disponível em: https://www.syngenta.com.br/sites/g/files/zhg256/f/moddus.pdf?token=1601566541. Acesso em: 09 ago. 2022.

ZAGONEL J., FERNANDES E.C. Doses e épocas de aplicação de redutor de crescimento afetando cultivares de trigo em duas doses de nitrogênio. Planta Daninha, 25:331-339. 2007.

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