Informativo GEA
Silagem de milho
O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial no que cabe à produção de carne, segundo estimativas da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) para o ano de 2022, posição esta ocupada desde 1992 quando a União Soviética foi dissolvida. Como também, vem cada vez mais se aproximando à produção dos Estados Unidos, que produziu em 2021 mais de 12 milhões de toneladas de carne bovina (SCARDOELLI, 2022).
Dessa forma, surge a necessidade de se complementar a alimentação animal com a utilização de outras estratégias na tentativa de amenizar a estacionalidade de produção de forragem, que provoca a diminuição da quantidade total de alimento, há de exemplo com a silagem. Dentre as possíveis culturas que podem ser utilizadas para a produção de silagem, como sorgo, girassol, aveia, azevém, milheto etc, destaca-se o milho (VIEIRA et al., 2011).
O milho é expressivo no contexto brasileiro no que tange a produção de silagem, haja vista que possui uma elevada produção de massa por unidade de área, alto rendimento de massa verde por hectare, facilidade de fermentação no silo e boa aceitabilidade por parte dos bovinos. No que tange a qualidade do milho, este proporciona uma nutrição voltada a parte mais energética do animal, haja vista que é classificado como um concentrado energético devido a sua concentração de proteína bruta estar em torno de 8,5 a 9,0% (VIEIRA et al., 2011).
Atualmente, no mercado há uma grande variedade de híbridos de milho, os quais variam de acordo com a estatura da planta, altura de inserção da espiga, esterilidade das plantas, duração do sub-período de pendoamento-espigamento, folhas com angulação mais reta e elevado potencial produtivo de matéria seca. Todavia, dentre essas características, ao selecionar um híbrido para a produção de silagem este deve conter a capacidade de produzir uma grande quantidade de massa verde por hectare, combinada a uma elevada produção de grãos e, impreterivelmente, deve conter uma boa digestibilidade da matéria seca de folhas produzida. Alguns parâmetros presentes na literatura são de poucas folhas secas na parte inferior da planta (menos de cinco folhas), altura de plantas entre 1,9 a 2,6 m, produção de massa verde acima de 55.000 kg/ha e de matéria seca acima de 18.000 kg/ha (NUTRIMOSAIC, 2020).
Outra especificação seria a levantada por Neumann, a qual leva em consideração a distribuição em porcentagem da planta de acordo com a sua divisão em colmo, folhas etc. Segundo a qual o híbrido ideal para a produção de silagem deveria conter menos de 25% de colmo, menos de 20% de palha e cerca de 40% de grão na silagem.
Contudo, todos os híbridos devem passar pelos mesmos processos de ensilagem visando a fermentação anaeróbia da planta colhida e a produção final de silagem. Primeiramente, ocorre a colheita do milho, que para a produção de silagem corresponde a planta inteira. Essa colheita ocorre quando a planta está com cerca de 33% de matéria seca acumulada nos grãos, o que corresponde a 1/2 da linha do leite, ou mais conhecido como grão farináceo, como pode ser observado na figura 1.
Figura 1 - Linha do leite em grãos de milho
Fonte: Milkpoint (s.d.)
Caso a lavoura seja colhida quando o milho estiver em estádio de grão leitoso, o que corresponde a ¼ da linha do leite, a qualidade e a quantidade de silagem produzida será reduzida. Isso ocorre, à medida que a produção de matéria seca será menor, assim como haverá uma menor qualidade da fermentação, devido ao maior conteúdo de umidade presente nos grãos e, consequentemente, haverá uma maior produção de chorume, derivado da umidade presente no grão em detrimento da fermentação, o que é desagradável para o animal, que terá uma menor preferência por essa silagem no cocho. Contudo, caso a lavoura seja colhida tardiamente, ou seja no estádio de grão duro, haverá mais perdas na colheita, associada a uma maior dificuldade de retirada do ar de dentro do silo, pois a planta estará mais dura, o que dificulta uma boa compactação e o processo de fermentação anaeróbio. Assim como, a silagem fica com um aspecto mais “poroso” o que proporciona que após a abertura do silo a entrada de ar seja mais facilitada e, consequentemente a silagem estrague mais rapidamente (EMBRAPA, 2015).
Para a colheita, a altura do corte deve estar entre 15 a 25 cm e deve ser realizada por máquinas ensiladeiras, as quais irão cortar, picar e depositar o material vegetal em carretas, as quais serão direcionadas até o local onde o silo será formado. O processo de picar deve deixar a planta com pedaços que variam de 0,8 a 1,5 cm de tamanho, em prol de favorecer tanto o processo de fermentação no silo, quanto a digestibilidade ruminal dos bovinos. Ao passo que, caso o material fique com menos de 0,8 cm, o consumo será menor, pois os animais irão ruminar menos, à medida que a porcentagem de “by-pass” no rúmen irá aumentar. E caso o alimento fique com mais de 1,5 cm, haverá uma maior dificuldade de compactação na formação do silo e sobrará mais alimento no cocho do animal (EMBRAPA, 2015).
Em sequência, ocorre a deposição do material colhido no silo, o qual poderá ser tanto do tipo trincheira, quanto do tipo superfície. O silo trincheira facilita o processo de compactação e a deposição do material colhido, contudo, representa um maior investimento ao produtor. Ao passo que o silo superfície é relativamente mais barato e possui a facilidade de mudança de local do silo, contudo, proporciona uma maior taxa de perdas e dificuldade no processo de compactação.
Figura 2 - Tipos de silo
Fonte: EMBRAPA, 2015.
Após a deposição do material vegetal o silo deve ser pilado contínuas vezes, visando que haja uma maior compactação e que ocorra a expulsão de todo ar, à medida que a fermentação seja de qualidade, assim como o produto final a ser produzido. Em sequência, ocorre o fechamento do silo com uma lona plástica, a qual deve ser bem esticada e com pesos posicionados em cima, a fim de que não haja a entrada de ar e de umidade no material ensilado. Sendo assim, caso esses procedimentos sejam realizados de forma favorável, a silagem pode durar até mais que 1 ano.
Por fim, segundo Haroldo Pires de Queiroz, zootecnista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, o processo de fermentação leva em torno de três semanas, mas em geral a silagem é aberta após completar 1 mês. Para a retirada da silagem a fatia cortada deve ter no mínimo 15 cm e abranger todo o comprimento do silo e a movimentação deve ser de baixo para cima, a fim de evitar o desmoronamento do material colhido. Como também, a abertura do silo deve ser feita de acordo com o consumo animal, em prol de evitar que haja contaminações por microorganismos e a degradação do material devido ao contato com o ar.
Em conclusão, a silagem de milho constitui uma ótima alternativa para a nutrição animal visando a estacionalidade de produção de forragem e a posição ocupada pelo Brasil no ranking de produção de carne bovina mundial. Sendo um processo que deve ser realizado com cautela, a fim de que a silagem contenha bom valor nutricional e durabilidade no silo.
Redigido por:
Da-vida - Maria Fernanda Sanches
Referências bibliográficas:
EMBRAPA. SETE PASSOS PARA UMA BOA ENSILAGEM DE MILHO. Brasília: Embrapa Gado de Leite, 2015.
NEUMANN, M.; TURCO, G. M. S.; FARIA, M. V.; VIGNE, G. L. D.; de SOUZA, A. M.; Produção e composição física da planta de milho para silagem em diferentes sistemas de cultivo. Pesquisa Aplicada & Agrotecnologia, Guarapuava-PR, v.12, n.1, p.87-97, Jan-Abr., 2019. DOI: 10.5935/PAeT.V12.N1.09
NUTRIMOSAIC. Para que serve a silagem de milho? Disponível em: https://nutrimosaic.com.br/silagem-de-milho-2/#:~:text=A%20silagem%20de%20milho%20%C3%A9,refere%20ao%20teor%20de%20energia.. Acesso em: 28 abr. 2023.
VIEIRA, Valmir da Cunha et al. Caracterização da silagem de milho, produzida em propriedades rurais do sudoeste do Paraná. 2009. 8 f. Tese (Doutorado) - Curso de Agronomia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná,, Laranjeiras do Sul, 2009.