Informativo GEA
Tipos de sorgo
O sorgo é uma cultura que vem sendo cada vez mais explorada no território brasileiro, haja vista as suas características xerofíticas, as quais tornam essa cultura mais adaptada a condições não favoráveis ao desenvolvimento de outras culturas de interesse agronômico, como por exemplo o milho. Atualmente, os principais países produtores de sorgo do mundo são a Nigéria, o Sudão, o México, estando o Brasil em nono lugar, com a produção concentrada nos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Bahia.
Em sua maioria, o cultivo de sorgo concentra-se em sorgo granífero, contudo, há seis tipos os quais são de interesse agronômico, sendo estes o forrageiro, o pastejo, o sacarino, o vassoura, o biomassa e propriamente o granífero. Cada um desses tipos é direcionado a uma função específica e atinge um mercado diferenciado, haja vista que o sorgo é uma cultura versátil, mas que ao mesmo tempo se assemelha morfologicamente tanto às culturas do milho e da cana-de-açúcar.
Primeiramente, o sorgo granífero é posicionado na maioria das regiões do Brasil como um cultivo de segunda safra, principalmente entre os meses de janeiro e março, contudo, há uma diferenciação para a região Sul, no qual o cultivo é recomendado para os meses de setembro a dezembro. Naturalmente, o sorgo por ser uma gramínea é capaz de perfilhar, característica esta que não é favorável para o tipo granífero, haja vista que os perfilhos podem sombrear a planta-mãe, assim como competir com ela por água e nutrientes do solo, podendo reduzir a produtividade dos grãos. Em geral, possui o ciclo de 50 a 80 dias e o porte de baixo a médio, entre 1,20 a 1,50 m, fator esse que pode variar de acordo com a aplicação de reguladores de crescimento, de modo a direcionar maior quantidade de fotoassimilados para o enchimento de grãos.
O sorgo é uma planta de dias curtos, ou seja, floresce em noites longas, no entanto, atualmente estão sendo selecionadas cultivares de sorgo granífero que são insensíveis ao fotoperíodo, de modo que o potencial produtivo de grãos possa ser explorado ao máximo. Fator esse que em teoria concentra-se de 5 a 7 t/ha, contudo, atualmente, a média de produção brasileira é de 3 t/ha, ou seja, muito aquém do que a cultura pode atingir, devido aos produtores não investirem tanto em adubação, manejo adequado de plantas daninhas etc. Outro fator que também está sendo selecionado em novas cultivares de sorgo granífero é a presença de tanino na composição da planta, haja vista a demanda do mercado por grãos que não contenham tanino, sendo que apenas 4% do sorgo granífero cultivado no país há a tanino em sua composição, concentrado em lavouras do Rio Grande do Sul, pois os ataques por pássaros são significativos.
Comumente, a colheita é feita com 12 a 13% de umidade, quando os grãos estão duros, mas com aspecto farináceo ao serem quebrados. Caso o produtor possua a capacidade de realizar a secagem artificial, por exemplo em secadores, a colheita pode ser realizada com 15 a 17% de umidade. Os grãos após serem colhidos, podem ser destinados para tanto o consumo humano (valorizado por não conter glúten) quanto animal, por possuir cerca de 62 a 65% de amido, possuindo mais proteína que o grão de milho, sendo de 8,5 a 9%, contra os 7,5 a 8% do milho, mas possui 1,5% de óleo, comparado aos 3% presente no grão de milho. Como também há outros usos, sendo esses para a produção de amido, óleo comestível e industrial, álcool e cera.
Figura 1 - Lavoura de sorgo granífero.
Fonte: Editora Gazeta
Outro fator é que o sorgo granífero, após a colheita de seus grãos, o sistema radicular continua estabelecido no solo, podendo assim ter a capacidade de rebrota e ser reaproveitado como sorgo de pastejo, ou seja, possui duplo propósito. Em si, o sorgo de pastejo é uma planta na qual a característica de perfilhamento é favorável, a qual tem como principal função o fornecimento de forragem, seja para o pastejo direto, ou para o corte. Em geral, esse tipo é capaz de aguentar três cortes mantendo seu valor nutritivo, haja vista que por não ser uma planta perene, tende a ter uma redução do crescimento de plantas, do perfilhamento e da produção de matéria seca com a sequência de cortes.
Entretanto, sob algumas condições, o sorgo de pastejo pode ser tóxico para os ruminantes, haja vista que assim como a mandioca, essa planta possui a capacidade de produzir ácido cianídrico (HCN), conhecida como cianogênese. Por possuir um composto conhecido como durrina, o qual é um glicosídeo cianogênico, e o composto p-dihidroxi mandelonitrilo, que sob a presença de enzimas B-glicosidases, presentes no sistema digestivo dos ruminantes, irão produzir glicose e ácido cianídrico.
Uma vez no sistema dos ruminantes, esse ácido tem afinidade por íons metálicos, podendo inibir a atividade de metaloenzimas. Há de exemplo, ao combinar-se com a hemoglobina, passa a impedir o transporte de oxigênio, o que leva o animal a um quadro de anóxia, incontinência urinária e possível morte fetal de bezerros. No entanto, a concentração de HCN na planta decresce com a maturidade, à medida que há o desenvolvimento de partes com menor concentração desse composto, como nervuras, bainhas e colmos, em relação às partes com mais concentração, que são as lâminas das folhas. Ou seja, estabeleceu-se que com 60 cm de altura, o sorgo de pastejo deixa de oferecer risco de intoxicação aos ruminantes, pois concentrações de 25 a 50 mg de HCN por 100 g de matéria seca são inofensivas, sendo concentrações superiores a 75 mg não mais confiáveis a saúde animal. Contudo, como forma de precaução, recomenda-se que o pastejo inicie-se quando as plantas atingirem 1,00 m de altura e caso as rebrotas não atinjam essa altura, recomenda-se que a entrada no pasto ocorra quando a planta atingir ponto de panícula.
Figura 2 - Lavoura de sorgo pastejo.
Fonte: Galpão Centro-Oeste.
A característica de perfilhamento também é favorável para o sorgo forrageiro, o qual tem sua produção voltada principalmente para a produção de silagem. Diferente do sorgo granífero, o tipo forrageiro tem sensibilidade ao fotoperíodo, possui em média porte médio a alto (2,0 a 3,0 m), alta produção de matéria seca (15 t/ha, ou seja de 45 a 60 t de forragem verde), e boa relação grãos-forragem. Como esse tipo é direcionado a produção de silagem, seja de planta inteira, de panícula etc, sua colheita é realizada à medida que os grãos tornam-se leitosos/pastosos.
Figura 3 - Lavoura de sorgo forrageiro.
Fonte: MF Rural.
Ao passo que o tipo de sorgo biomassa é voltado para o mercado de produção de energia de segunda geração e para a cogeração de energia. É uma planta que pode atingir um porte de 5,00 a 6,00 m de altura, com alta produção de matéria seca ( 120 a 150 t/ha) em um ciclo médio de 180 dias. Cerca de 80% de sua biomassa total está concentrada nos colmos, que são caracterizados como secos, ou seja tem baixo rendimento de caldo e de acúmulo de açúcares. Como também, possui um elevado teor de fibra, sendo cerca de 22 a 28% e ainda há a produção de grãos, sendo cerca de 2 a 4 t/ha. Além de ser responsivo ao fotoperíodo.
O tipo biomassa tem variação em sua composição a depender de seu destino final, haja vista que a concentração de lignina presente em seu colmo irá afetar diretamente o seu poder calorífico, sendo esse maior de acordo com a presença de lignina, podendo atingir até 4.000 kcal/kg de matéria seca, comparado aos 3.800 kcal/kg de matéria seca atingidos pelo eucalipto.
Contudo, caso esse seja destinado para a produção de etanol segunda geração (2G), é interessante que a concentração de lignina no colmo seja reduzida, visto que quanto maior a presença desse composto é também maior a dificuldade de ação das enzimas hidrolíticas. Há de exemplo cultivares com menor concentração de lignina, as brown midrib, que em português podem ser traduzidas para nervura marrom, as quais são obtidas através de uma mutação que garante cerca de 50% a menos de lignina se comparadas às cultivares que não possuem a mutação.
Figura 4 - Lavoura de sorgo biomassa.
Fonte: Rural Pecuária.
Diferente do tipo biomassa, o sorgo do tipo sacarino é voltado para a produção de etanol de primeira geração, assemelhando-se morfologicamente à cultura da cana-de-açúcar por possuir um colmo suculento, dessa forma, sua colheita deve ser realizada quando ocorre o maior acúmulo de açúcares em seu colmo (média de 160 g/L), à medida que os grãos assumem o ponto pastoso/farináceo. Possui um ciclo médio de 110 a 130 dias. Em geral tem um porte acima de 2,00 m e um alto rendimento de caldo, sendo que para tonelada de massa verde tem-se 500 L de caldo, produtividade esta que pode atingir de 50 a 80 t/ha de matéria seca. A composição de açúcares no caldo é em geral de sacarose, glicose e frutose, sendo a concentração de respectivamente, 8 a 13%, 0,5 a 2% e 0,5 a 1,5%, sendo o Brix em geral variando de 12 a 22º, comparado com o 18º da cana-de-açúcar.
Figura 5 - Colheita em lavoura de sorgo sacarino.
Fonte: Arranjo Produtivo Local do Álcool.
E por fim, há o tipo vassoura, o qual tem sua panícula utilizada para a fabricação de vassouras, como também sua palha serve de produto para artesanato. Em média, a produção de matéria seca da maioria dos cultivares é de 1,5 t/ha e o comprimento da palha varia de 40 a 60 cm.
Figura 6 - Sorgo vassoura de porte baixo.
Fonte: IAC
Redigido por:
Da-vida - Maria Fernanda Sanches
Referências bibliográficas:
DINIZ, Juraci et al. Poder calorífico da casca de arroz, caroço de pêssego, serra-gem de eucalipto e de seus produtos de pirólise. 2004. 8 f. Tese (Doutorado) - Curso de Física, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2004. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/cienciaenatura/article/view/9674/5792. Acesso em: 19 fev. 2023.
SILVA, Alexandre Ferreira da et al. Coleção 500 perguntas 500 respostas: sorgo. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2015. 332 p. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/215310/1/500-perguntas-sorgo.pdf. Acesso em: 19 fev. 2023.
Em conclusão, a cultura do sorgo está cada vez mais em expansão no país, podendo ser explorado não somente o sorgo granífero, como também os outros cinco tipos evidenciados acima.