Informativo GEA
CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO AMENDOIM
O amendoim é uma planta leguminosa que vem ganhando cada vez mais espaço no
atual cenário produtivo brasileiro. Devido às suas características nutricionais, tal espécie pode
ser utilizada para diversos fins, como a fabricação de rações para a produção animal, a
alimentação humana in natura e industrial (fabricação de doces, salgados e confeitos), como
também para a fabricação de biodiesel destinado à indústria automotiva. Ao se abordar sobre
os valores nutricionais do amendoim, ressalta-se que tal leguminosa apresenta de 25 a 28% de
proteínas e 45 a 50% de lipídios, o que o configura como uma importante fonte visando à
aquisição de proteínas e calorias de maneira pouco onerosa (KASAI & DEUBER, 2011).
Um dos motivos que se caracterizam como os mais prejudiciais à lavoura do amendoim
é a competição entre a cultura estabelecida e as plantas daninhas infestantes na área, sendo
este um dos principais desafios que devem ser ultrapassados para se garantir altas
produtividades. Diversos fatores são determinantes quando se trata sobre a competição entre
plantas daninhas em uma mesma área, sendo eles a competição por luz, água, nutrientes e
dióxido de carbono. O período crítico estabelecido para tal cultura está em torno de 50 dias,
sendo este o período no qual as plantas daninhas devem ser efetivamente controladas para não
acarretar em perdas produtivas. Dentre as estratégias de controle de plantas daninhas são
utilizadas, principalmente, a forma de controle manual, mecanizado, cultural, rotação de
culturas e o manejo químico da área (KASAI & DEUBER, 2011).
Outro ponto importante a ser levado em consideração é que, no momento de colheita da
lavoura, as plantas daninhas podem influenciar negativamente nesse processo, reduzindo a
eficiência do maquinário e prejudicando o arranquio, inversão e secagem das plantas a campo,
o que pode levar ao desenvolvimento de outros danos como, por exemplo, à contaminação por
aflatoxinas resultante da propagação de Aspergillus (SUASSUNA et al., 2008). Nesse
cenário, é importante ressaltar que diversas espécies de daninhas podem ocorrer na cultura,
como plantas anuais, perenes, rasteiras ou não, monocotiledôneas e eudicotiledôneas e, todas
estas, variam conforme a região de cultivo, estação do ano e os manejos adotados na
propriedade. Para tal, fatores como a prolificidade, arquitetura de planta, velocidade de
emergência, sistema radicular, toxinas e resistência a eventos climáticos são os mais
determinantes quando se trata da intensidade da competição entre plantas (KASAI &
DEUBER, 2011).
A seguir, serão abordados os diferentes tipos de controle na cultura do amendoim.
MANEJO MECÂNICO
O controle mecânico pode ser realizado de maneira manual ou mecanizada, fazendo-se
o uso da enxada ou de implementos agrícolas, sendo mais recomendado em áreas pequenas.
Para tal, é recomendado que nos 15 dias após a emergência da cultura seja realizado o
controle das plantas infestantes para evitar a ocorrência de competições com a cultura e
posteriores perdas em produtividade (KASAI & DEUBER, 2011).
MANEJO CULTURAL
O manejo cultural pode ser realizado de diversas maneiras, uma delas é a escolha de
cultivares. Cultivares de porte ereto são menos susceptíveis à competição com outras
daninhas (FEAKIN, 1973). Contudo também há outras cultivares que são mais resistentes a
doenças, o que indiretamente influi no fato de que apresentam maior vigor e se tornam menos
sensíveis à matocompetição (KASAI & DEUBER, 2011).
Outra maneira bastante utilizada é a rotação de culturas, pois a interrupção da prática do
monocultivo é capaz de alterar os herbicidas utilizados nas lavouras, reduzindo a
probabilidade de surgimento de resistências. Além disso, essa prática mantém sempre a área
da lavoura coberta, reduzindo a pressão de daninhas e mantém constantemente a palhada
sobre o solo, especialmente quando realizada a semeadura direta e o não revolvimento do
solo, contribuindo para a redução da emergência de plântulas, especialmente aquelas
fotoblásticas positivas (Agriculture BASF, 2024).
Figura 1: Ilustração da palhada sobre o solo com baixa incidência de plantas
daninhas.
Fonte: RS2 Comunicação, 2021.
MANEJO QUÍMICO
No amendoim, semelhantemente às outras culturas, os herbicidas utilizados apresentam
ação em pré-plantio incorporado, pré-emergência e pós emergência, contudo, devido à
escassez de produtos registrados, torna-se bastante difícil realizar o controle das plantas
daninhas na cultura em questão, o que leva a muitos produtos utilizarem produtos aplicados
sobre outras culturas como forma de controle (LUVEZUTI et al., 2014).
Figura 2: Herbicidas registrados para a cultura do amendoim.
Fonte: Agrofit, 2024.
Um herbicida bastante utilizado na cultura do amendoim (e também em cana-de-açúcar)
é o imazapic, o qual apresenta ação tanto em pré quanto em pós-emergência e pertence ao
grupo químico das imidazolinonas. É um herbicida de ação sistêmica, ou seja, se locomove
via xilema e floema e é absorvido pelas folhas, raízes e translocado via apossimplástica, se
deslocando rapidamente para as regiões meristemáticas, onde se acumula e promove o fim das
divisões celulares nesta região (RODRIGUES & ALMEIDA, 2005). É um herbicida inibidor
da enzima ALS, o que promove a interrupção da síntese de três aminoácidos alifáticos de
cadeia ramificada, sendo eles a valina, leucina e isoleucina; contudo, na cultura do amendoim,
sua aplicação deve ser realizada apenas apenas uma vez durante todo o ciclo da cultura mas,
mesmo assim, apresenta grande eficiência no controle de monocotiledôneas e
eudicotiledôneas (BASF S/A, 2023).
Figura 3: Representação da molécula de Imazapic.
Fonte: Sigma Aldrich, 2024.
A bentazona também é outro princípio ativo bastante utilizado no controle de daninhas
no amendoim. Trata-se de um herbicida pós-emergente e de contato, ou seja, é absorvido
pelas folhas e não apresenta translocação ao ser absorvido pelas folhas das plantas, com
exceção de quando é absorvido pelas raízes, e é bastante utilizado pelos produtores em geral.
Pertencente ao grupo químico das benzotiadiazinona, atua interferindo no fluxo de elétrons do
fotossistema II e seu respectivo acúmulo na proteína QB, causando uma peroxidação de
lipídeos e a subsequente paralisação da síntese de carboidratos, o que leva a planta à morte
(BASF S/A, 2023).
Ao ser aplicado, os sintomas iniciais podem ser percebidos de 3 a 5 dias, e se iniciam
com manifestações de clorose que evolui para necrose. Atua especificamente no controle de
folhas largas, porém gramíneas e leguminosas apresentam alta capacidade de conjugação
desse herbicida com compostos vegetais (DA SILVA, 2023).
Figura 4: Representação da molécula de bentazona.
Fonte: Alsachim, 2024.
Outro herbicida bastante utilizado é a trifluralina, a qual pertence ao grupo químico das
dinitroanilinas. Na cultura do amendoim, este herbicida pode ser utilizado na forma de
pré-emergente e também na forma de pré-plantio incorporado, tendo em vista que a sua
incorporação ao solo antes do plantio ou semeação da cultura economicamente desejada
contribui para um efetivo controle das plantas daninhas, especialmente as gramíneas a fim de
evitar também, inclusive, perdas por volatilização e por fotodecomposição. Para tal, deve ser
aplicada imediatamente ou até seis semanas antes do plantio. Como mecanismo de ação, este
herbicida inibe a formação de microtúbulos nas células, evitando o correto desenvolvimento
dos locais em crescimento nas plantas e de intensa divisão celular, como nas regiões
meristemáticas e nas gemas, levando a morte das plantas muitas vezes antes da emergência
em si (NORTOX, 2024).
Figura 5: Representação da molécula de trifluralina.
Fonte: Nortox, 2024.
A mistura de bentazona com imazamox é igualmente muito utilizada na cultura do
amendoim. O imazamox é um herbicida aplicado em pós-emergência e é inibidor da ALS,
semelhante ao imazapic, e a sua absorção se dá majoritariamente pelas folhas, mas também
pode ser absorvido pelas raízes. Tal espectro de ação atinge especialmente sobre as plantas de
folhas largas, e os sintomas iniciais manifestados pelas plantas são clorose nas folhas mais
jovens seguida de necrose no meristema apical. Assim, por estar associado à bentazona, o
produto possui duplo mecanismo de ação, atuando não somente na enzima ALS como
também no fotossistema II (RODRIGUES & ALMEIDA, 2005).
Figura 1. Estabelecimento da cultura da soja em meio a soqueira de algodão
Fonte: Pedro Silvestre, 2023
Figura 2. Gráfico de porcentagem de controle de fungicidas em diferentes localidades à mancha-alvo.
Fonte: GODOY, 2021
Podemos destacar também a ocorrência de nematóides comuns a ambas as culturas e que podem ser um problema no sistema de sucessão soja-algodão. Entre eles estão: Meloidogyne incognita, Rotylenchulus reniformis e Pratylenchus brachyurus. (DIAS et. al. 2021 & GALBIERI et. al. 2016).
O Meloidogyne incognita, também conhecido como nematoide-das-galhas, é um patógeno importante na cultura do algodoeiro pois, ocorre praticamente em todas as regiões produtoras e causa danos relevantes à produção. A doença pode ser diagnosticada facilmente pelos sintomas de galhas nas raízes e pelas folhas “carijó”, com manchas cloróticas e necrose entre as nervuras. Esse patógeno no algodão causa a inibição da absorção de água e nutrientes, que levam a sintomas semelhantes aos de deficiências nutricionais ou hídricas (GALBIERI et. al. 2016). Para o cultivo da soja, a doença causada pelo nematóide predomina em áreas cultivadas anteriormente por algodão, e é caracterizada pela presença de folhas “carijó”. A infecção por esse patógeno aumenta a taxa de abortamento de vagens e o amadurecimento prematuro das plantas (DIAS et. al.; 2021).
O Rotylenchulus reniformis ou nematóide reniforme, também é um dos principais problemas fitossanitários do algodoeiro, em campos infestados com o patógeno, as plantas apresentam menor desenvolvimento e sistema radicular com menor volume e aspecto escurecido (GALBIERI et. al. 2016). Em lavouras de soja com solo infestado de nematóide reniforme, a plantação é caracterizada pela desuniformidade e subdesenvolvimento das plantas, muito semelhante à sintomas de deficiências de nutrientes (DIAS et. al.; 2021).
Por fim, o nematóide das lesões radiculares, Pratylenchus brachyurus, é o de maior ocorrência em áreas de produção agrícola no país, principalmente nas áreas de cultivo de algodão, em que a presença do patógeno causa o rompimento superficial e destruição interna das raízes, deixando-as vulneráveis a infecções secundárias por fungos e bactérias (GALBIERI et. al. 2016). O nematoide reniforme na cultura da soja vem aumentando sua relevância principalmente no centro-oeste brasileiro. Seus sintomas podem ser caracterizados por reboleiras de plantas ainda verdes e com menor crescimento além do escurecimento de suas raízes (DIAS et. al.; 2021).
PLANTAS VOLUNTÁRIAS E CONTROLE QUÍMICO
Durante o processo de colheita de uma cultura, é esperado que ocorram perdas, estas, resultam na emergência posterior de plantas voluntárias dessa espécie, que passam a ser infestantes da cultura em sucessão (ADEGAS et. al.2009).
Figura 3: Plantas voluntárias de algodão em meio a cultura da soja
Fonte: Adapa, 2021
No caso da cultura do algodão, cultivado em segunda safra após a Soja Roundup Ready (RR), o manejo de plantas voluntárias de soja no estádio V1, pode ser feito a partir do controle químico, utilizando o herbicida glufosinato de amônio (para o caso de a cultivar de algodão ter a tecnologia LibertyLink) isolado ou associado ao pyrithiobac-sódico. Ambos foram capazes de reduzir o porte da soja e diminuir o potencial competitivo com o algodão (BRAZ et. al.; 2011).
Também pode acontecer o contrário, no caso de plantas de algodão que não forem bem controladas, competir com a cultura da soja na próxima safra.
Para o controle químico de plantas voluntárias de algodão tolerantes ao glifosato na cultura da soja RR, os herbicidas que tiveram a maior porcentagem de controle foram os pós-emergentes fomesafen, chlorimuron-ethyl e imazethapyr isolados; ou a dessecação pré-plantio da soja com paraquat sucedido pelo bentazon em pós-emergência; ou ainda o paraquat em dessecação sucedido pelo clomazone/ sulfentrazone em pré-emergência e em seguida o fomesafen em pós-emergência (FERREIRA, et. al. 2016).
Já para o manejo da rebrota das soqueiras do algodoeiro na soja, um estudo realizado pela Unicamp, mostra que para eliminação total das soqueiras é recomendável que seja realizado controle químico com 2,4-D seguida de glifosato e carfentrazone, a modalidade de aplicação dependerá das condições climáticas de cada região, levando em consideração a precipitação e a temperatura (MARINHO, 2016).
Alguns herbicidas podem permanecer ativos no solo por um determinado tempo e em concentrações capazes de causar fitotoxicidez à cultura sequente. Este efeito residual recebeu o nome de Carryover. (NEGRISOLI, 2021).
Dentre os herbicidas pré-emergentes recomendados para a cultura da soja está a sulfentrazona (CAVALIERI,2017). Este composto orgânico possui alta persistência no solo, com meia-vida estimada de 110 e 280 dias e pode se tornar um problema na cultura do algodão em parâmetros como fitointoxicação , número de capulhos por planta, massa média de capulho e produtividade de algodão em caroço. (CAVALIERI,2017).
MAQUINÁRIOS
Outro fator que torna a cadeia de produção soja-algodão complexa são os maquinários e instalações diferentes para cada cultura. O algodoeiro exige máquinas diferentes, em especial as colhedoras, a produção de soja por sua vez exige instalações para armazenamento e pós colheita diferentes. Essas diferenças no modo de produção geram um grande investimento em ambas culturas, exigindo mais uma vez altas produções para cumprir com os investimentos.
Redigido por:
Féuπs - Lívia Akemi Tahara Amaral
Referências bibliográficas:
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CAVALIERE, S. D.; Carryover de Sulfentrazone na Sucessão Soja-Algodão. Embrapa Algodão. 2017
CLÁUDIA, Vieira; GODOY, Carlos; UTIAMADA, Maurício; et al. [s.l.: s.n., s.d.].Londrina, PR Julho, 2021.
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DIAS, Autores et al, Nematóides em Soja: Identificação e Controle. Embrapa. Londrina. 2021.
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EMBRAPA. Mancha Alvo e Podridão Radicular de Corinéspora. 2021.
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