Informativo GEA
Manejo químico das principais pragas da soja
Introdução
O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de soja, com produção na
safra 23/24 próxima de 156 milhões de toneladas (USDA, 2024). Neste sentido,
depreendemos a expressividade de nosso país no mercado internacional e a
necessidade de compreensão sobre as práticas agrícolas tecnificadas no manejo da
soja.
A rica biodiversidade, estações do ano pouco definidas junto do clima
tropical, contribuem com o ciclo de desenvolvimento das pragas, o que remonta
nosso interesse à necessidade de controle das mesmas. Em 1970 foi introduzido no
Brasil o conceito de manejo integrado de pragas (MIP), que consiste na junção de
diferentes tipos de manejo, como o cultural, químico, biológico, a fim de melhorar os
resultados de controle e evitar possíveis resistências (OMOTTO, 2023). O manejo
químico, sendo um dos componentes do MIP , é a principal ferramenta à disposição
do produtor rural, apresentando alta eficiência quando conduzido com racionalidade
e responsabilidade.
Nível de controle
Como mencionado, é de suma importância o controle de pragas na cultura da
soja em prol de uma boa produtividade, principalmente no ambiente brasileiro, este
que nos últimos tempos vem favorecendo cada vez mais ataque desses insetos (em
virtude do aumento de temperatura, veranicos e rica biodiversidade). Desse modo,
para otimizar o controle de pragas em função do investimento, desenvolveu-se uma
gráfico com base na dinâmica da prevista população de certa praga sem e após
intervenção exógena. Como observado abaixo, temos o nível de controle (NC) e o
nível de dano econômico (NDE) (BUENO el al., 2012).
Figura 1: Representação gráfica da dinâmica populacional e o nível de controle da praga,
em relação ao nível de dano econômico.
Fonte: Agropos.
Ou seja, a partir do momento que a população de certa praga alcança a linha
de nível de controle, é necessário entrar com algum manejo para que a população
não continue crescendo e atinja o nível de dano econômico, ou seja, o nível de
controle precede o nível de dano econômico (BUENO el al., 2012).
Estes níveis de controle estão determinados para as principais culturas da
soja, isto é, são parâmetros que permitem tomar as decisões de medida de controle,
como o manejo químico (BUENO el al., 2012).
Figura 2: Níveis de controle de algumas pragas da soja.
Fonte: Agricultura do futuro, 2022.Pragas e danos
É válido ressaltar que as pragas que acometem a cultura da soja atacam em
momentos específicos, mas que quando somadas totalizam o tempo de ciclo da
cultura, logo a atenção à presença de insetos indesejáveis deve ser constante.
Figura 3: Pragas incidentes de acordo com os estágios de desenvolvimento da
cultura.
Fonte: Mais Soja, 2024.
Dentre todas as pragas retratadas na figura acima, a atenção na safra 23/24
foi maior para o complexo de lagartas, tripes (não está na imagem), mosca branca e
percevejos.
Lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), Lagarta-falsa-medideira (Crysodeixis
includens), Lagarta-das-maçãs (Chloridea virescens), Lagarta elasmo
(Elasmopalpus lignosellus) e o complexo spodoptera (Spodoptera frugiperda, S.
eridania e S. cosmioides) formam o complexo de lagartas de maior atenção na
cultura da soja. Seu dano é nas folhas, de onde se alimentam tanto do parênquimafoliar quando mais jovens, quanto do limbo propriamente dito quando mais
desenvolvidas. (CELOTO, 2023). Vale ressaltar a presença de cultivares de soja BT ,
que possuem genes da bactéria Bacillus thuringiensis, que são capaz de expressar
proteínas que levam lagartas, moscas e besouros a morte; no entanto, têm sido
relatados cada vez mais casos de escape ou resistência a esta tecnologia.
A mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B) é outra praga que foi problemática
na safra 23/24 devido às condições climáticas enfrentadas; Altas temperaturas e
baixa umidade relativa do ar favorecem o desenvolvimento da mosca-branca, sendo,
por isso, observados surtos populacionais desta praga na estação seca. A chuva é o
fator mais adverso, causando mortalidade nas populações do inseto, principalmente
quando são fortes e constantes (COSTA, 2008). As ninfas e adultos sugam a seiva
e, junto desse processo de alimentação, injetam toxinas, o que ocasiona alterações
fisiológicas na planta, levando a perda de produtividade. Além disso, podem excretar
um líquido açucarado, o "honeydew", que recobre as folhas e favorece a proliferação
de fungos, com ênfase na fumagina (Capnodium sp.), um fungo de coloração escura
que extende-se sobre o limbo foliar, diminuindo a atividade fotossintética. Outro dano
é ocasionado pela transmissão de viroses, que no caso da soja destacam-se o vírus
do mosaico anão e o vírus do mosaico crespo.
As tripes (ordem Thysanoptera) configuram pragas secundárias na cultura da
soja, ou seja, apesar de causarem prejuízos, normalmente elas não representam um
dano econômico expressivo. Entretanto, em algumas situações, a infestação cresce
significativamente, podendo ocasionar grandes perdas de produtividade
(MOMBELLI, 2021). Um dos danos diretos é a redução da área foliar
fotossinteticamente ativa, o que culmina em um menor aporte de fotoassimilados e,
logo, na redução de produtividade. A praga foi mais expressiva na safra 23/24
devido ao baixo volume de chuvas que acometeu as regiões sojicultoras.
Os percevejos fitófagos são pragas agrícolas que apresentam aparelho bucal
sugador labial tetraqueta, o que implica seu hábito de se alimentar dos grãos no
interior das vagens, afetando diretamente o processo de granação. A família
Pentatomidae é a de maior expressividade, englobando espécies como o
percevejo-verde, verde-pequeno, marrom e barriga verde (Nezara viridula,Piezodorus guildinii, Euschistus heros, Diceraeus spp., respectivamente). Sua fase
de maior atenção é em R5, durante o processo de enchimento de grãos. Os grãos
quando atacados perdem qualidade, com menor teor de óleo e proteína, além de
ficarem manchados e depreciados (EMBRAPA SOJA, 2017).
Manejo
De acordo com o estudo feito pela Fundação MS, em 2021, os inseticidas
Pirate (Clorfenapir), Proclaim (Benzoato de Emamectina), Lannate (Metomil), Voraz
(Novaluron), Intrepid Edge (Metoxifenozida + Espinetoram), Ampligo
(Lambda-cialotrina + Clorantraniliprole), Curyom (Profenofós + Lufenuron), Plethora
(Indoxacarbe + Novaluron), Avatar (Indoxacarbe), Hero (Zeta-cipermetrina +
Bifentrina), Verismo (Metaflumizone) e Influx (Benzoato de Emamectina +
Lufenuron) são os mais eficientes no controle de falsa-medideira (Chrysodeixis
includens), com valores superiores a 80% em pelo menos três avaliações. Utilizando
como base para um manejo geral para lagartas na soja.
Figura 4: Eficiência de controle (%) de lagartas Chrysodeixis includens em plantas de soja
aos 1, 4, 7, 10 e 14 dias após a aplicação (DAA) dos inseticidas. Maracaju, MS, 2021.
Fonte: Fundação MS, 2021.
Já a respeito do manejo de percevejos de tais inseticidas como Curbix
(Ethiprole), Feroce (Acefato + Bifentrina), Hero (Zeta-cipermetrina + Bifentrina) +
Imidacloprid, Perito (Acefato) + Imidacloprid, Sperto/Afiado (Acetamiprido +
Bifentrina) e Verdavis (Lambda-cialotrina + Isocicloseram) garantem a maior eficácia
de controle do percevejo marrom da soja até 14 dias após a aplicação, entretanto,
ressalta-se atenção com o intervalo entre as aplicações realizadas. Como
observado no estudo da Fundação MS abaixo em relação ao percevejo-marrom
(Euschistus heros).
Figura 5: Eficiência média (%) de controle dos inseticidas, conforme Abbott (1925), aos 1, 4,
7, 10 e 14 dias após a aplicação dos tratamentos. Maracaju, MS, 2024.
Fonte: Fundação MS, 2024.
Em relação ao manejo de mosca-branca (Bemisia tabaci), os insecticidas
Benevia (Ciantraniliprole), Benevia (Ciantraniliprole) + Valente (Acefato), Carnadine
(Imidacloprido) + Epingle (Piriproxifen), Epingle (Piriproxifen), Epingle (Piriproxifen) +
Valente (Acefato), Maxsan (Dinotefuram + Piriproxifen), Minecto Pro (Ciantraniliprole
+ Abamectina), Trivor (Acetamiprido) + óleo vegetal e Trivor (Acetamiprido) +
Valente (Acefato) + óleo vegetal garantem a maior eficácia de controle de ninfas de
mosca-branca na cultura da soja.
Figura 6: Eficiência média (%) de controle dos inseticidas, conforme Abbott (1925), aos 3, 7
e 10 dias após a aplicação dos tratamentos. Maracaju, MS, 2023.
Fonte: Fundação MS, 2023.
O manejo de tripes, os inseticidas Perito (acefato), Perito + Imidacloprid
Nortox (acefato + imidacloprido), Curbix (ethiprole), Zeus (Lambdacialotrina +
Dinotefuran), Engeo Pleno S (Lambdacialotrina + Tiametoxam), Expedition
(Lambdacialotrina + Sulfoxaflor), Sperto (Bifentrina + Acetamiprido), Bold
(Fenpropatrina + Acetamiprido) e Pirate (Clorfenapir) asseguram maior eficácia de
controle de tripes, de acordo com o estudo feito pela Fundação MS, em 2022.
Figura 7: Eficiência de controle dos tratamentos inseticidas, segundo Abbott (1925) aos 3 e
7 DAA1 e, aos 3, 7 e 14 DAA-2. Maracaju, MS, 2022.
Fonte: Fundação MS, 2022.
Portanto, percebe-se uma variedade de princípios ativos e misturas que
possuem boa performance para os controles das pragas mencionadas. Desse
modo, sabendo do desempenho de controle, o produto final escolhido depende
diretamente do seu preço e da sua disponibilidade no mercado. Não somente isso, é
extremamente necessário a rotação dos princípios ativos para proporcionar umaboa taxa de controle, evitando perdas de desempenho e surgimento de resistências
ao longo das futuras safras.
Autores: Vitor Ferrari Sia (Bok-xêa) e Gustavo de Britto (Marú-ki).
Referências:
BUENO, Adeney de Freitas. Soja - Manejo integrado de Insetos e outros
Artrópodes-Praga. Brasílio, Df: Embrapa, 2012.
BEM JÚNIOR, Luciano del. CONTROLE QUÍMICO DA LAGARTA FALSA-MEDIDEIRA
(Chrysodeixis includens) NA CUL TURA DA SOJA. Maracaju: Fundação MS, 2021.
BEM JÚNIOR, Luciano del; SANTOS, Lucas Moraes; SOARES, Isamara Nicoletti.
EFICIÊNCIA DE INSETICIDAS NO CONTROLE DO PERCEVEJO MARROM DA SOJA.
Maracaju: Fundação MS, 2024.
BEM JÚNIOR, Luciano del; WISOCZYNSKI, Danielly; SOARE, Isamara Nicoletti.
EFICIÊNCIA DE INSETICIDAS NO CONTROLE DE MOSCA-BRANCA EM PLANTAS DE
SOJA. Maracaju: Fundação MS, 2023.
BEM JÚNIOR, Luciano del. EFICIÊNCIA DE INSETICIDAS NO CONTROLE DE TRIPES
(Caliothrips brasiliensis) EM PLANTAS DE SOJA. Maracaju: Fundação Ms, 2022.
BUENO, Adeney de Freitas. Soja - Manejo integrado de Insetos e outros
Artrópodes-Praga. Brasílio, Df: Embrapa, 2012.
FERNANDES, Isla. Manejo Integrado de Pragas: aprenda a utilizar! Disponível em:
https:/ /agropos.com.br/manejo-in